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Brasil: o conteúdo local busca maior visibilidade em um mercado de VoD em expansão

Um relatório recente da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA) lança nova luz sobre a oferta e a circulação de conteúdos audiovisuais no ecossistema de vídeo sob demanda (VoD) no Brasil. Em sua terceira edição, o estudo analisou um total de 60 plataformas ativas no país, destacando não apenas a estrutura do mercado, mas também a presença de obras nacionais em seus catálogos.

Segundo o relatório, as plataformas de assinatura (SVoD) continuam sendo maioria — com 42 serviços —, enquanto 31 oferecem conteúdo gratuito (FreeVoD) e 13 operam por meio de aluguel ou venda transacional (TVoD). Embora o número total de plataformas avaliadas tenha diminuído levemente em relação ao ano anterior, a quantidade de títulos disponíveis se manteve em torno de 91 mil.

A oferta segue dominada por títulos não seriados, principalmente filmes, em todas as modalidades de acesso. No modelo SVoD, por exemplo, cerca de 40 mil dos 55.500 títulos disponíveis são longas-metragens, enquanto o modelo TVoD concentra mais de 98% de seu catálogo em filmes. Entre as plataformas com maior volume geral de títulos estão Vivo Play, Claro TV+ e Plex; e no modelo por assinatura, destacam-se Netflix, Prime Video e Sky+.

A análise também revela um cenário fragmentado em relação à presença de obras brasileiras. Identificaram-se um total de 4.712 títulos nacionais distribuídos em 50 das 60 plataformas, com clara predominância de produções não seriadas. No entanto, a circulação dessas obras é limitada: mais de dois terços estão disponíveis em apenas uma ou duas plataformas, e apenas quatro títulos se repetem em dez ou mais serviços.

Entre as plataformas com maior volume de conteúdo local, destacam-se Vivo Play (1.943 títulos), Claro TV+ (1.734) e Globoplay (1.241). Em termos proporcionais, o Banco de Conteúdos Culturais (BCC) lidera com 61% de obras brasileiras em seu catálogo, seguido por Tamanduá TV e Curta!ON, ambas com mais de 40%.

Na outra ponta, plataformas internacionais como Disney+, Max e Microsoft Movies& TV apresentam participação marginal de conteúdo brasileiro, abaixo de 3%. Esse desequilíbrio se acentua ao observar os números das cinco plataformas mais populares do país: apenas o Globoplay supera 25% de participação de conteúdo nacional, enquanto Netflix, Prime Video, Disney+ e Max estão longe de atingir dois dígitos.

O relatório também aponta uma leve queda na proporção de títulos nacionais em relação ao total: de 8,5% em 2023 para 7% na edição atual. Em números absolutos, essa redução representa apenas 43 títulos a menos, o que indica estabilidade mais do que retrocesso, mas também evidencia estagnação na ampliação de obras brasileiras nos catálogos globais.

Um dado relevante é que mais da metade dos filmes brasileiros lançados nos cinemas entre 1995 e 2023 estão atualmente disponíveis em alguma plataforma. Nessa categoria, Vivo Play, Claro TV+ e Sky+ lideram a oferta, cada uma com mais de uma centena de títulos entre os mais assistidos das últimas décadas.

Desafios

O relatório destaca o desafio de alcançar uma distribuição mais ampla e equitativa da produção audiovisual brasileira. A concentração de conteúdos em poucas plataformas, somada à baixa visibilidade nos serviços mais populares, sugere que as políticas de incentivo à produção nem sempre resultam em uma presença sustentável no mercado digital.

Embora existam casos de sucesso em termos de volume e diversidade — especialmente entre as plataformas brasileiras —, o acesso a uma audiência massiva continua sendo um desafio, particularmente para as obras independentes.